Carta de 16/05

I.,

Eu não sabia que, ao deixar tua vida, eu estaria entregando-te à morte. Sou quem mais perdeu, posto que não mais te tenho para dar alguma beleza e sentido a esta existência no mundo físico.

Ontem meu pai comentou sobre eu não ter planos de aposentadoria. Ele não sabe que para nós guerreiros não existe o acúmulo de coisas para o futuro. Vivemos à orla da morte, assoprando-lhe as franjas do vestido com o vento que produzimos ao passar correndo a seu lado. (Não sabe também que, enquanto houver sanidade, podemos estar trabalhando.)

Mas eu achei que partiríamos na mesma batalha. Que estaríamos no mesmo campo quando as Valquírias te requerissem e Perséfone argumentasse com elas que deveriam pôr-nos no mesmo mundo-de-lá.

E agora só me fica esse imenso vazio de quem não sabe nem mais por quê ainda a deixaram aqui. Sinto-me como Psiquê que, na sua perda de objeto, deseja morrer e as águas não a recebem, o punhal voa de sua mão, ela perambula pelo mundo e ninguém a ajuda, então só lhe resta cumprir suas tarefas na esperança de encontrar seu Eros escondido após abrir alguma caixinha mágica do submundo.

Será que me vens salvar e me receber quando esse dia chegar?...

Álex.

2 Responses
  1. Perfeito e sutil em sua tristeza.
    Nada mais digo. Nada mais ouso.