Carta de 05/10

Phille,
certamente me dirás que demoro em responder suas cartas, e-mails e tudo o mais. Desculpe. A ordem e a desordem das coisas me é inversa, e muitas vezes desconhecida. Sigo o tempo das árvores, e tal qual elas sugam da existência negativa da terra sua vida, eu me abasteço no inanimado.

Após nosso último desentendimento as coisas têm sofrido mudanças. E apesar da falta que sua companhia  ausente me passa, tenho uma secreta mira que anima, e mesmo depois da tempestade, eu permaneço. De certa forma está longe de você me faz bem.

Sua censura e conselhos, por melhores que fossem, me afogavam. E eu preciso me expor. Não gosto da maneira como você bibliografa as minhas neuroses. Não posso acreditar que tudo que eu faço ou deixe de fazer possa ser culpa de meus ralacionamentos. Eu também tenho poder de decidir sobre minha vida.

O fluxo das coisas é constante, e frequentemente vejo confluências. Encontros ao acaso que comprovam a veracidade do infinito. Não sei ao certo o rumo que as coisas tomarão nos próximos dias. Mas sei que o melhor sempre há de acontecer se nós quisermos. E eu quero.

A distância me faz bem, me alimenta de possibilidade. Não vou me atrelar a nada que não acredite ou deseje, mas continuarei sempre com meus ideias, mesmo que por vezes elas possam ferir ou magoar alguém a quem se goste.  A virtude é um caminho doloroso, mas eu acredito.

Dois dias antes de sua última mensagem ter me chegado, eu lhe vi ao ponto de ônibus. Estavas toda em verde como a caçadora. Poderia ter parado e conversado, de uma única vez esclarecido toda a situação. Mas o sîlêncio me é mais necessário.

Zeú Phos, phille mou

Atenciosamente:
Th.
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