Carta de 06/12

Poseideon 27, 1º ano da 697ª Olimpíada.

Phile mou...

Às vezes encontramos cartas tão semelhantes umas das outras, talvez por que o sentimento seja semelhante e as situações se repitam entre as pessoas que se envolvem. E, também por isso, evito te escrever. Parece que sempre já teve alguém antes que escreveu o mesmo que eu gostaria de te dizer. Um outro motivo é que, dar-te a conhecer o que sinto através de palavras escritas é como definir e limitar os sentimentos tão difusos que meu coração experimenta. Ainda assim, não pensaria duas vezes em abrí-lo para ti, independente de receber de volta alguma declaração de mesma natureza e intensidade.

Na verdade, prefiro conhecer uma não-reciprocidade do que me obrigar a esquecer-te. Eu não desejaria ter de ti nada que não fosse dado por tua "livre e espontânea vontade". Uma palavra de carinho constrangida é ainda pior que manter o silêncio, o qual pode se manter como um sinal de cumplicidade e compaixão. Há em mim a tendência a ignorar todas as vezes em que me deixaste sozinha e rejubilar-me pelas poucas em que te mostras. A incerteza de teus gestos é um fogo que me circula, enquanto a tua ausência na minha vida e pensamentos seria apenas um grande vazio inerte de emoções.

Mas apesar de gostar desse turbilhão em que me colocas, por vezes até prefiro que não me retornes o mesmo, que não vivas te atribulando de pensamentos de mim ou te agitando diante das minhas palavras. Quiçá seja melhor manteres a tranquilidade e a certeza as quais não tenho mais. Enquanto forem minhas, suporto todas as dores, mas não aguentaria vê-las em ti.

A mim basta saber que ao escrever-te posso sentir-te mais presente. Por isso as cartas que não te envio servem-me mais do que serviriam a ti. E foi bom não prever que me sentiria assim por ti, pois provavelmente evitaria senti-lo e me privaria das aventuras que tal sentimento me traz.

Por ora deixo-te com tua distância e fico com as surpresas que te guardo...

Sempre a cuidar-te,
Alexandra.
0 Responses